No 164 - Ano XIII - Setembro de 2009


 

A VEZ DO CANYENGUE

(...) Canyengue é a pura essência do Tango. Teve início em torno de 1900, na zona rural de Buenos Aires, com rancheiros e trabalhadores rurais.  O chão, por ser de terra batida, explica a característica dos movimentos em marcha para não levantar poeira. 

 No idioma falado pelos escravos africanos, “canyengue” quer dizer “caminhar cadenciado”. Sua principal característica é dançar dentro do sentido musical, de forma precisa, com movimentos cortados e com variantes de tempo e contratempo constantes.

Mesmo esquecida por alguns como dança, o canyengue música continuou abrilhantando as milongas pelo mundo afora com intérpretes como Francisco Lomuto, Tipica Victor, Rodolfo Biagi, Juan D´Arienzo, Roberto Firpo, José Basso, Quinteto Pirincho e Felipe Antonio,  entre outros (...)

Marcio Carreiro (Professor de Tango e Canyengue).

 

Cantemos

(Tango - 1943)

Letra:   José María Suñé                                                   Música:  Raúl Kaplun

Vengan a ver que traigo yo en esta unión de notas y palabras,

es la canción que me inspiró la evocación que anoche me acunaba.

Es voz de tango modulado en cada esquina,

por el que vive una emoción que lo domina,

quiero cantar por este son que es cada vez más dulce y seductor.

 

Envuelto en la ilusión anoche lo escuché,

compuesta la emoción por cosas de mi ayer,

la casa en que nací, la reja y el parral, la vieja calesita y el rosal.

Su acento es la canción de voz sentimental,

su ritmo es el compás que vive en mi ciudad,

no tiene pretensión, no quiere ser procaz, se llama tango y nada más.

 

Esta emoción que traigo yo, nació en mi voz cargada de nostalgia.

Siento un latir de rebelión cuando a este son sus versos le disfrazan.

Si es tan humilde y tan sencillo en sus compases,

porque anotarle un mal ejemplo en cada frase.

Con este resto de emoción muy fácil es llegar al corazón.

Canta Osvaldo Ribó, acompanhado de guitarras de Roberto Grela

 

Assim se tece a história

 

Seu nome real era Israel Kaflún e nasceu em 11 de novembro de 1910 no bairro de Balvanera, Buenos Aires.  Seu nome artístico surgiu de um mal-entendido por parte dos inquilinos de seus pais, que quando sua mãe o chamava “Srul! Srul!” (que era como Israel soava em Idish, seu idioma natal), entendiam “Raúl”.  Junto com sua educação primária, estudou violino e mais tarde continuaria seus estudos musicais com prestigiosos mestres.  Nesse período, foi contratado como violinista para  tocar em pequenos conjuntos nos cinemas, acompanhando filmes mudos.

Seu encontro com o tango aconteceu em 1926, quando integrou o sexteto de Miguel Caló.  Tempos depois Kaplún passou a tocar no conjunto de Armando Baliotti.  Então começaram a aparecer os filmes sonoros, acarretando o desemprego dos músicos (que acabaram refugiando-se nos cafés e cabarés) e a expansão da radiofonia.  Ali começou sua carreira no rádio, quando com Baliotti também levou seus tangos para os grandes salões.  

Durante a década de 30, época crítica tanto para o país como para o tango, músicos como Troilo, Gobbi, Pugliese, Laurenz e D’Arienzo, entre outros, floresciam.  Outro era Argentino Galván, que tinha preferência acentuada pelas cordas, em “solos breves e variados, generosamente ilustrados”. Esta foi a oportunidade histórica que inscreveu Kaplún como iniciador do virtuosismo violinístico no tango.

Em 1942, Kaplún transferiu-se para a orquestra do pianista Lucio Demare, de marcação rítmica e temperamento sentimental, de encontro ao romantismo e a vontade de bailar do público.  Ali o violinista estreou alguns tangos de sua composição, como Canción de rango, Una emoción, Qué solo estoy, Mendigo de amor, Casa de Carriego e La mesa de un café, entre outros. A primeira obra conhecida de Kaplún foi o vals Recordando a Musmé.  Outro de seus valses foi Nunca supe por qué.  Veio a falecer em 23 de janeiro de 1990.

Fonte: "Tango judío. Del ghetto a la milonga", Ed.Sudamericana, Buenos Aires 1998 (trad. RM).