Nº 47 - Ano IV - Novembro de 1999

 

Enquanto curtia o baile, inadvertidamente ouvi o comentário: "É por isso que eu gosto daqui, acho que este lugar é o único em que vão dançarinos jovens.  Nos outros só dá terceira idade...".  A pessoa que proferiu essas palavras pode agora estar sentada a seu lado ou até dançando com você... Bem, também pode ser você...

Certamente, gosta do tango como dança, crê na eterna juventude para os bons dançarinos - o que é em parte verdade: os bons dançarinos não envelhecem.  Se há alguma coisa que faz tanto bem ao corpo como à alma é o tango, exercício de disciplina e paciência, lição de ritmo e harmonia, que somente com a vivência são atingidos em sua plenitude.

É indiscutível que os jovens são estéticamente mais agradáveis à vista.  A juventude acrescenta frescor e dinâmica aos bailes.  Ali demonstram prazer em saciar sua curiosidade com aqueles mais vividos, para depois usufruir dentro de seu grupo.

Porém, é injustificável que se trate com desdém e se ridicularize os idosos, aqueles que são presença garantida em todos os lugares, que distribuem alegria e vontade de viver e, principalmente, são um espelho do futuro daqueles que hoje são jovens.   

(R.M.)

 

Cantemos!

Letra:  S. Linnig                                                                                                                          Música:  E. Delfino

¿Te acordás, Milonguita, vos eras

la pebeta más linda 'e chiclana?
La pollera cortona y las trenzas,
y en las trenzas un beso de sol.
Y en aquellas noches de verano,
¿qué soñaba tu almita, mujer;
al oír en la esquina algún tango
chamuyarte bajito de amor?

Estercita, hoy te llaman Milonguita,
flor de lujo y de placer, flor de noche y cabaret.
Milonguita, los hombres te han hecho mal
y hoy darías toda tu alma por vestirte de percal.

Cuando sales a la madrugada,
Estercita, de aquel cabaret,
toda tu alma temblando de frío
dice: "¡Ay!, si pudiera querer..."
Y entre el humo y el último tango,
pa'l cotorro te saca un bacán:
 ay, qué sola, Estercita, te sientes,
si llorás, dicen que es el champán...

Manolita Poli, sainetista (escritora de teatro de revista)

Canta:  Libertad Lamarque

 

Assim se tece a história

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nasceu em Montevidéu em 1888 e morreu em Buenos Aires em 1925. Radicou-se em Buenos Aires ainda adolescente, foi redator do jornal La Razón e colaborou, como crítico teatral, na famosa revista Nosotros, dirigida por Bianchi e Giusti. Sua iniciação como autor teatral data de 1915. Em 1916, escreveu os três atos de La túnica de fuego e a peça La copa de cristal, e em 1918 Jesús y los bárbaros. Logo, sem demora, partiu para um teatro menos rebuscado e mais rentável. Produziu, desse modo, Delikatessen Haus (Bar Alemán) em 1920, Milonguita em 1922, Maison Ristorini (Masajes y Postizos) em 1924 e outras obras de cunho semelhante.

O nome Linnig perdura graças aos versos de seu tango Milonguita, cantado por Maria Esther Podestá no sainete (tragicomédia de caráter popular, de origem espanhola) Delikatessen Haus, estreado no Teatro Ópera no dia 12 de maio de 1920. Diz-se que esse tango foi criado numa noite que, ao sair de um jogo, chegou à conclusão de que tinha que ganhar dinheiro com a estréia de uma peça à qual faltava um tango famoso. Quando Linnig escreveu os versos de Milonguita, o tango canção, iniciado oficialmente por Pascual Contursi, Samuel Castriota e Manolita Poli em 1918 existia há apenas dois anos. Sem dúvida, a música contagiante de Enrique Delfino (foi o primeiro tango canção que este compôs) e o espalhafato da famosa repentista Raquel Meller asseguraram a difusão e a permanência de Milonguita. Dizia-se que sua letra era o relato fiel da vida de uma mulher que viveu em Buenos Aires. Linnig adaptou o conteúdo de sua poesia para uma peça de dois atos, que estreou no teatro Nacional em 25 de agosto de 1922. Linnig - despeitado por algum desprezo ou devido, talvez, a um capricho de sua inspiração - teria complicado a jovem Maria Esther Dalto, caçula de uma família residente em Chiclana, por causa de uma história dúbia.

(trad. R.M.)

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