No 123 - Ano X - Março de 2006


Facundo e Kely Posadas (ARG)

À primeira vista, observa-se nas milongas a existência de dois tipos extremos de Tango, os quais vou chamar de íntimo e de elaborado.

O íntimo é dançado entre os parceiros, num ritual de sedução privada, indiferente a quem, de fora da pista, observa.

No elaborado, há também um jogo de sedução, porém mais parecido com aquele encontrado em outras danças latinas: uma sedução explícita tanto para o iniciado como para o leigo.  Neste tipo, o par que dança ao lado não "comunga" com os outros, mas compete - e às vezes, incomoda.

Esta diferença não é só observável em nossos salões e tem originado discussões em vários níveis, ainda muito superficiais e ineficazes, no meu entender.

(R.M.)

 

Cantemos

(Tango - 1933)

Letra:   Celedonio Flores                                                      Música:   Francisco Pracánico

Amainaron guapos junto a tus ochavas cuando un cajetilla los calzó de cross
y te dieron lustre las patotas bravas allá por el año novecientos dos.
Esquina porteña, tu rante canguela se hace una melange de caña, gin fitz,
pase inglés y monte, bacará y quiniela, curdelas de grappa y locas de pris.

El Odeón se manda la Real Academia rebotando en tangos el viejo Pigalle,
y se juega el resto la doliente anemia que espera el tranvía para su arrabal.
De Esmeralda al Norte, pa’l lao de Retiro, franchutas papusas caen en la oración
a ligarse un viaje, si se pone a tiro, gambeteando el lente que tira el botón.

En tu esquina un día, Milonguita, aquella papirusa criolla que Linnig mentó,
llevando un atado de ropa plebeya al “Hombre Tragedia” tal vez encontró...
Te glosó en poemas Carlos de la Púa y Pascual Contursi fue tu amigo fiel...
En tu esquina rea, cualquier cacatúa sueña con la pinta de Carlos Gardel.

Esquina porteña, este milonguero
te ofrece su afecto más hondo y cordial.
Cuando con la vida esté cero a cero
te prometo el verso más rante y canero
para hacer el tango que te haga inmortal.

 

Assim se tece a história

 Músico, pianista, compositor e maestro.  Debuta em 1913 num cinema de sua cidade natal, San Fernando, logo passando a tocar em todos os cafés, cinemas e outros locais de lazer existentes na cidade por aquela época, enquanto ia compondo suas primeiras músicas.   Chega a Buenos Aires em 1919, onde aos poucos vai se fazendo conhecido por suas qualidades.  Inicia-se como pianista de Augusto P. Berto no bar Domínguez, nesse mesmo ano.  Com sua própria orquestra, toca nas principais casas de famílias da capital, em clubes aristocráticos, em Mar del Plata e no famoso Chantecler, entre outros cabarés, e além disso, grava discos pelo selo Electra.  Trabalhou com Azucena Maizani, Mercedes Carné, Ada Falcón e Carmen Duval em  suas apresentações por salas e rádios, que também o contratavam com sua orquestra típica.

Sua primeira composição, Monte protegido, é de 1916, seguindo-se dois anos depois seu clássico Pampa.  Logo após vêm ¡Madre!, Sombras, ¡Perdóname Señor!, Pobres Flores; Tango porteño com letra de Manuel Romero; Te odio, Mentira, Si se salva el pibe com letras de Celedonio Flores; Enfundá la mandolina com a de Zubiría Mansilla, que foram gravados por Carlos Gardel.

Em sua lista de triunfos, acham-se os tangos Hijo del fango (Franzino e Pesce) gravados por Corsini; El cielo en tus ojos (Bohigas); Monte criollo e Muchacho del cafetín (Manzi) do filme Monte Criollo, que ele musicara.

Quanto ao seu notável Corrientes y Esmeralda, existe uma controvérsia sobre se Carlos Gardel, a quem conheceu e de quem ficou amigo, o tenha cantado ou não.  Dias antes de sua última partida, Pracánico caminhava pela avenida Corrientes em direção a Callao, quando ouviu alguém chamando:  —«Pancho!... Ei, Pancho!».   Olhou à sua volta, procurando na multidão e viu que quem o chamava era Carlitos, que da outra calçada, lhe disse: —«Ché Pancho!... Amanhã ou depois gravo sua música, e no meu lugar ponho o Chevalier...» .  Por que não o gravou logo, nunca ficou sabendo.  É bom ressaltar este fato, pois quem diz saber afirma que ao cantá-lo citava Charles Boyer, ator que começava a aparecer em pontas no cinema.  Pracánico nasceu em San Fernando (Buenos Aires) a 15 de maio de 1898 e ali faleceu em 30 de dezembro de 1971.

Fonte:  Todo Tango – trad. RM