No 99 - Ano VIII - Março de 2004


Num La Yumba

Nossa força vital e moral pode se assemelhar a uma espécie de capital interior em estado de renovação perpétua que sob a influência do sen-timento sofre perdas e danos.

O estado afetivo que o Tango traz, relaciona-se sempre a uma exaltação ou depressão da nossa energia.

Já na música a expressão é obtida mediante as sensações sonoras e não através de conceitos. Tipos de imagens que não possuem valor imitativo senão em função da associação de idéias que despertam. Tentemos imaginar um Pugliese ao piano num Tango da sua psique ao influxo de uma emoção intensa; domina nossa sensibilidade. Projeta a alma. Sistematiza a forma, trazendo em conseqüência a dança.   Realiza um tipo de milagre que nos deixa extasiados, mediante procedimentos que não imitam  nada diretamente e a ninguém indiretamente.

O Tango é a música que carrega metáforas nos salões, constituídas pelas sensações autênticas e não simplesmente conceitos literários.

(A.D.R.)

Cantemos

(tango - 1956)

Música:  Luciano Leocata                                                            Letra:  Abel Mario Aznar 

Cada vez que te tengo en mis brazos,

que miro tus ojos, que escucho tu voz,

y pienso en mi vida en pedazos

el pago de todo lo que hago por vos,

me pregunto: por que no termino

con tanta amargura, con tanto dolor?...

Si a tu lado no tengo destino...

por que no me arranco del pecho este amor?

Por que, si mentis una vez,

si mentis otra vez y volves a mentir?

Por que yo te vuelvo a abrazar,

yo te vuelvo a besar aunque me hagas sufrir?

Yo se que es tu amor una herida,

que es la cruz de mi vida, y mi perdición...

Por que me atormento por vos

y mi angustia por vos es peor cada vez?...

Y por que con el alma en pedazos,

me abrazo a tus brazos, si no me querés?

Yo no puedo vivir como vivo...

Lo sé,  lo comprendo con toda razón,

si a tu lado tan solo recibo

la amarga caricia de tu compasión...

Sin embargo... por que yo no grito

que es toda mentira, mentira tu amor

y por que de tu amor necesito,

si en él solo encuentro martirio y dolor?

 

Assim se tece a história

Poeta e músico, nasceu em Libertad, 30km a oeste de Buenos Aires em 26 de junho de 1913.  Seu pai, ferroviário que tocava guitarra e bandoneón, queria vê-lo formado engenheiro químico, para um melhor futuro nas ferrovias e, por isso, batia de frente com seu pendor para as letras e a música.  Ainda assim, Abel estudou violino dos 8 aos 13 anos.  Estudou até a sexta série, mas aprendeu muito bem o inglês de sua mãe, irlandesa.  Gostava da noite, de poesia e de escutar Pacho (Juan Maglio), que às vezes passava nos povoados com sua orquestra.

A partir de 1930 vinculou-se ao ambiente artístico, travou conhecimento com pessoal de rádio e cantores.  Nessa época compôs seu primeiro tango Igual te quiero, com letra sua também, que estreou no rádio em 1936.

O pianista Armando Cupo apresentou-lhe diversos cantores, entre eles Roberto Chanel que, por sua vez, iniciava-se com Pugliese, para o qual levou um tema composto junto a Aznar.  O maestro lhe disse: “Escrevendo desse jeito, não vai a lugar nenhum”.  Foi um baque para Aznar, mas com o tempo, percebeu que seus versos eram demasiado poéticos e sem apelo popular.

Tempos mais tarde, seu amigo Reinaldo Yiso lhe trouxe uma música do bandoneonista Luciano Leocata, para colocar letra.  Era Y volvemos a querernos, que o cantor Jorge Casal levou ao maestro Florindo Sassone, que o gravou em 1949.  Além desse, Sassone também gravou Y mientes todavía, também com música de Leocata.  A partir daí começa seu verdadeiro sucesso. 

Pugliese havia gravado La mascota del Barrio, de Aznar com Reinaldo Yiso. A combinação Aznar-Pugliese continua com vários outros temas: Y mientes todavía, Y todavía te quiero, Y no le erré, Sueño malevo e Jamás lo vas a saber. Outros títulos importantes de sua obra são:  De qué podemos hablar, Y no somos nada, Nuestra última partida, Te doy un beso y me voy, El último guapo, Qué tenés que hablar de mi, Y te parece todavía, Vos hacés lo que querés, El corsito del barrio, Azúcar, pimienta y sal, Anoche te soñé, e tantos outros.

Tinha uma personalidade muito sensível e com uma ânsia enorme de afeto.  Era um homem magro, de físico e de bolso, que comia pouco, mas consumia excessivamente café e cigarros.  Era um tipo nervoso e de andar rápido, exibindo sempre o cabelo gomalinado. Tinha uma faceta ignorada, que expressava sua fina sensibilidade: a pintura.   Faleceu em 5 de março de 1983.

Fonte:  Todo Tango (Internet) – trad. RM

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