No 160 - Ano XIII - Maio de 2009


 

Sebastian Arce e Mariana Montes (ARG)

O Tango não permite que um dos bailarinos protagonize um papel principal.  Efetivamente, a condução do homem condiciona o que a mulher deverá fazer, mas não a transforma numa marionete.  No Tango tem de existir um acordo tácito em que ambos aceitam as regras de um jogo, sendo a primeira a de que o homem propõe, conduzindo, e a mulher aceita, deixando-se conduzir. 

O fato de seguir o homem não deve ser entendido como uma atitude absolutamente passiva. Ao contrário, a mulher deve colocar na dança toda a sua sensibilidade e o seu estilo próprio.  Este conceito, associado à técnica específica da mulher, permite-lhe, mais cedo até que ao homem, desfrutar, na totalidade, os prazeres da dança.

Quando um homem conduz a mulher, ela mesma já firmou a sua postura, com o seu peso, a sua maior ou menor facilidade de movimentos, o seu equilíbrio e segurança dos passos, etc., características pessoais de que o homem não pode ignorar e às quais deve também ajustar-se, embora a mulher se adapte com mais facilidade à condução do homem, do que o homem à forma de dançar da mulher.

Fonte:  Internet – trad. RM

 

Cantemos

(tango – 1940)

Letra:  José María Contursi                                                                    Música:  Pedro Laurenz

Me acobardó la soledad y el miedo enorme de morir lejos de tí...

Qué ganas tuve de llorar, sintiendo junto a mí la burla de la realidad.

El corazón me suplicó que te buscara y que te diera su querer...

Me lo pedía el corazón y entonces te busqué, creyéndote mi salvación.

 

Y ahora que estoy frente a tí parecemos, ya ves, dos extraños...

Lección que por fin aprendí, cómo cambian las cosas los años.

Angustia de saber, muertas ya, la ilusión y la fe.

Perdón si me ves lagrimear, los recuerdos me han hecho mal.

 

Palideció la luz del sol, al escucharte fríamente conversar.

Fue tan distinto nuestro amor y duele comprobar, que todo, todo terminó.

Qué gran error volverte a ver para llevarme destrozado el corazón.

Son mil fantasmas al volver, burlándose de mi las horas de ese muerto ayer.

(canta Juan Carlos Casas com orquestra de Pedro Laurenz

 

Assim se tece a história

 

O Marabú foi um dos templos do tango onde Aníbal Troilo debutou nos idos de 1938.  Seu amigo e poeta José Maria Contursi era habitué desse reduto, onde foi testemunha de um drama passional que soube usar para construir a letra do tango que batizou com o título acima.  Algum tempo antes, seu amigo Pedro Laurenz lhe havia dado a composição de uma bela melodia para que pusesse os versos.  A história que ele conheceu no Marabú sobre o romance de um garçom e uma copeira foi a base para a letra neste sucesso na voz de excelentes cantores, como Floreal Ruiz e Adriana Varela.

Contursi contava que na oportunidade em que o Cabaré Marabú recrutava moças para o trabalho de copeiras, entre elas se apresentou uma noite uma belíssima jovem, vinda da cidade de Córdoba, procurando trabalho em Buenos Aires.  Jovem e bela foram suas credenciais para ser imediatamente contratada pelo dono do lugar.  Com o tempo, fez amizade com um dos garçons, cordobês como ela, e essa amizade foi crescendo e assim tornaram-se namorados.  Juraram continuar trabalhando alguns anos no lugar, juntar dinheiro e se casar, ter filhos e envelhecer juntos.  Eram duas pessoas boas, queridas pelos seus companheiros da noite.  Mas um dia... a coisa mudou abruptamente.

Apareceu no Marabú um homem que, sem meias palavras, agarrou a moça pelos cabelos e arrastando-a, tentou sair com ela dali.  Claro que a reação de seus colegas foi unânime...  Porém o homem tinha uma razão muito grave para justificar sua atitude: apresentou ali sua certidão de casamento, argumento invencível para qualquer impedimento.  Era sua esposa e ele veio resgatá-la daquele antro de perdição...

Todos ficaram revoltados, mas inutilmente.  O namorado ficou emocionalmente arrasado, seus companheiros não sabiam o que fazer para consolá-lo - tantos projetos e no final, tudo se acabara...  Passou-se o tempo - um ano, dois anos e a ferida em seu coração ainda não cicatrizara.  Seus amigos, pensando fazer-lhe um bem, o aconselharam que fosse procurá-la.  Por comentários dela no passado, não lhe custou muito localizar o armazém onde ela trabalhava na cidade de Córdoba.  Quando entrou na loja, viu-a atrás do balcão atendendo uma cliente.  E não acreditou no que via...  Apenas dois anos haviam se passado da traumática separação, e o passar do tempo operou tristes mudanças na aparência da moça.  Gorda, desalinhada, sem dentes, com o olhar mortiço, era aquela que tinha à frente.  Todas suas esperanças fizeram-se em pedaços, seus olhos encheram-se de lágrimas e dando meia volta, partiu com o coração destroçado.

José Maria Contursi, quando escutou entre soluços o relato frustrado do namorado, construiu esses belíssimos versos.