No 115 - Ano IX - Julho de 2005


Pintura de Cristina Bergoglio (ARG) Editorial

Os amigos, comumente, optam por Recuerdo e querem mais informações, por não compreenderem o porquê da escolha.  Há uma fascinação imediata, sem dúvida suscitada pela riqueza harmônica e o ensemble perfeito.

Histórias de tangueros contam os pedidos, a repetir até dez vezes o tango em noite de Milonga, em que os sulcos das 78 rotações de massa eram gastos, reproduzindo, assim, um confuso rumor de piano, violinos e bandoneón misturados em uma planície sonora e difusa.

Recuerdo, lançado à impetuosa corrente tanguera da década de vinte, chegou caracterizado com a capacidade criativa do maestro Pugliese.

Sua vigência permantente, ao longo dos anos, venceu opostas inclinações de gerações.  Para ser ouvido, torna-se imprescindível uma atitude de afastamento do todo, como dever de ingressar em si mesmo, longe do ambiente circundante.  Ao se bailar, cria o uni-pessoal entre homem e mulher.

Não admite qualquer classe de hermenêutica, ele conhece o pulso de Buenos Aires e chega até a expor seu caráter sentimental, seus sonhos, cheiros, hábitos e nossas fraquezas.

Palavras não são suficientes para se lograr o mergulho no segredo desta jóia.  

Recuerdo que se nutre de magia...

(A.D.R)

 

Cantemos

Ya me estoy poniendo mal de verte así
con las pilchas tan de bute y ese berretín
que un gil de mucho vento te compró
para tenerte a su lado.
Si supiera que mañana te fugás
para la vieja querencia,
aquel bulín donde los viejos recuerdos
y alegrías que vivistes
te hicieron tan feliz.

Recuerdo que eras más linda que una guinda

y un pelpa de cien,
y venías paseando tarde a tarde con una piel de zorro

y un encantador vaivén...
Y la barra de muchachitos te acechaba por doquier...
Te batían muchas cosas que te dije yo también.

Y hoy que el tiempo aquel ya se ha fugado
y sin grupo te amaré,
porque manyo como te has portado
y conmigo nunca empleastes un chiqué.
Es por eso que te he respondido
en todas las rachas de la vida…
Mi encantito, mi piba querida,
soy de línea, soy de línea yo también.

 

Assim se tece a história

Bandoneonista, mastro e compositor.  Aluno de Genaro Espósito (Tano Genaro), sua iniciação profissional deu-se em 1913, com Roberto Firpo no bar "Iglesias".  Com seu  próprio trio, apresentou-se no ano seguinte no "El Caburé", um bar da Avenida Entre Ríos.

Após diversas atuações em numerosos cafés, animou centenas de bailes e começou a gravar com sua orquestra no selo Brunswick, acompanhando o famoso cantor Agustín Magaldi.

Embora quase sempre estivesse à frente de uma orquestra, chegou a integrar a de Francisco Lomuto, entre outros de menor hierarquia.  Teve brilhante atuação na Rádio Belgrano, na feliz era radiofônica.

Em 1914 escreveu seu primeiro tango chamado Siga el corso e em 1920 o orgulho da música portenha à qual até os mais empedernidos não resistem por sua delicada melodia:  Chiqué.  Este magnífico tango levou seu nome à posteridade, porém compôs outros com muito mérito:  Siempre viva, Bacán fulero, Rulitos, Boquense, Caridad, El secante, El espamento", Florida del arrabal, Milonga y copetines, Encantado de la vida, Crisálida, Imploración, Espina de una Flor, Ambiciosa, El alazán, De puro gusto, Para mis amigos, El octavo, Qué bomboncito, La reina del bulín, Por seguidora y por fiel.

Brignolo nasceu em Buenos Aires em 7 de março de 1892 e ali faleceu em 27 de março de 1954.

Fonte:  Todo Tango – trad. RM