No 133 - Ano XI - Janeiro/Fevereiro de 2007


Desta vez não foi fácil voltar.  Foi a partida mais difícil de todas, pois foi definitiva em termos de "estar vivendo em Buenos Aires".  Ao final da milonga de domingo, quando comecei a despedir-me de meus queridos amigos milongueiros, as lágrimas foram saindo aos poucos: primeiro, quando alguns se foram para casa, depois quando nos despedimos dos que ficaram por ali, abraços carinhosos e sentidos.  Até que cheguei ao pé da escada e ali estava aquela que foi minha professora por um bom tempo. 

Abraçamo-nos e enfim parti.  Enquanto descia as escadas e olhava as paredes vermelhas do El Beso, percebi que minha vida nunca mais será igual; que eles estarão sempre em meu coração e que o Tango (já me haviam dito) é uma viagem sem volta.  Bem, gostaria de agradecer aos professores e instrutores pela paciência e por haverem me ensinado os primeiros passos do 2 x 4, que me fazem arriscar dançar nas milongas com a segurança de que as damas não vão morrer na pista.  Um beijo grande a todos,

Ronaldo 

 

 

Cantemos

 

Música e Letra:  Juan Carlos Cáceres

Tango negro, tango negro, te fuiste sin avisar,

los gringos fueron cambiando tu manera de bailar.

Tango negro, tango negro, el amo se fue por mar,

se acabaron los candombes en el barrio ‘e Monserrat.

 

Más tarde fueron saliendo en comparsas de carnaval

pero el rito se fue perdiendo al morirse Baltasar.

Mandingas, Congos y Minas repiten en el compás,

los toques de sus abuelos - borocotó, borocotó, chas, chas.

 

Borocotó, borocotó borocotó,

borocotó borocotó, borocotó, chas, chas.

 

Tango negro, tango negro, la cosa se puso mal,

no hay más gauchos mazorqueros y Manuelita que ya no está

Tango negro, tango negro, los tambores no suenan más

los reyes están de luto ya nadie los va a aclamar.

 

Assim se tece a história

 

Possuído por um tipo de magnetismo telúrico, Càceres esteve sempre no olho do furacão.  Chegou a Paris – teria sido por acaso? - em maio de 1968.  Não procurava a praia sob os paralelepípedos, mas a encontrou.  Antes, em sua Buenos Aires natal, era o faz-tudo do palco existencialista.  Estudante de Belas Artes durante o dia, pianista e trombonista à noite, agitador, fenômeno da natureza, converteu-se no guru da mítica

Cueva de Pasarotus, clube de jazz e epicentro das tendências revolucionárias. Ali se misturavam beatniks, filhotes da oligarquia e futuros guerrilheiros maoistas, muitas vezes na mesma pessoa.  Cáceres tinha o comando, até que um dia ouviu o chamado. 

Em Paris, acompanhou Marie Laforet, fundou os grupos Malón e Gotán, pintou, expôs, ensinou História da Arte e se aprofundou nas raízes da música rioplatense.  Hoje dá conferências sobre o tema, mas sobretudo compõe e canta, com voz de leão, as canções mais representativas do ininterrupto ressurgir do tango, o candombe, a murga e a milonga. 

Cáceres é inspirado, impetuoso, apaixonado e ardente.  Este artista nascido em 1936 é a referência obrigatória para os criadores, dentro e fora da Argentina e Uruguai.  O Rio de la Plata separa os dois países que uma vez foram um só.  Cáceres bebe dessas águas e escuta um rugido: é a tormenta de ritmos africanos e europeus que traz do passado para comover o presente e preparar o futuro.  A modernidade está nas origens.

Fonte:  Internet (trad. RM) 

Voltar ao início