Nº 62 - Ano VI - Fevereiro de 2001


 

Quando terminam as aulas de uma escola no bairro de Nuñez, em Buenos Aires, um grupinho de meninos, os que preferem o tango à matemática, pedem à professora para ficar até mais tarde dançando no pátio. 

Têm onze ou doze anos e quando a música pára, tecem seus comentários:  “Olhe, o casal é uma coisa única e se comunica com as mãos” – diz com seriedade o pequeno.   “Como?”, diz o seu colega. 

“Bem, quem guia é o homem.  Você tem que pôr a mão nas costas dela.  Os dedos ficam de um lado da coluna e a palma da mão do outro, vê?  Quando você pressiona os dedos – de leve, claro – a menina já sabe que vão girar para esse lado, e se pressionas com a palma, o giro vai para o outro lado.  Tem que ter uma comunicação muito profunda com sua parceira”.  Quem fala é um menino que mede apenas um metro e vinte.  “E se dança melhor quando não se olha para o chão e sim, para ela, entende?" – arremata.

O garoto chama-se Enrique e tem 12 anos.  Seus olhos azuis e uma fita de couro negro com um escudo do Independientes o descrevem.  Além do tango, é claro.  Porque Enrique ama o tango e seu amor é contundente, pois além de dançá-lo, escreve sobre ele:  “Cuando te veo junto al otro / yo siento que me muero / Y en el infierno de mis sueños / sufro cuando se dan un beso...”.  E isso é o que produziu em letra miúda e cursiva em seu bloquinho de anotações.

(trad.  RM)

 

Cantemos...

 (tango)

Letra:  Homero A. Exposito                                   Música:  D. S. Federico

 

Callejón...callejón... lejano, lejano...

Ibamos perdidos de la mano,

bajo un cielo de verano,

soñando en vano...

Un farol, un portón, igual que en un tango,

y los dos perdidos de la mano,

bajo el cielo de verano

que partió.

Dejame que llore crudamente

con el llanto viejo del adiós.

Adonde el callejón se pierde

Brotó este yuyo verde del perdón.

Dejame que llore y te recuerde,

trenzas que me anudan al portón;

de tu pais ya no se vuelve

ni con el yuyo verde del perdón.

Un farol, un portón, igual que en un tango,

y este llanto mio entre mis manos

y este cielo de verano

que partió.

 

Assim se tece a história

Nasceu em 1918, em Zárate (Província de Buenos Aires).  Foi um dos maiores poetas da década de quarenta, de estilo inconfundível, inovador quanto às letras cheias de metáforas e rima interna.  Nos primeiros tempos, suas metáforas chocavam com o estilo direto dos anos 20.  Cronista da realidade suburbana e do centro da cidade, também tinha uma forma de observar a realidade que se assemelhava a Discépolo, que em muitos versos abordava a tristeza, a perda do amor e a separação dos amantes.

Suas melhores obras foram feitas junto ao seu irmão Virgilio, que era compositor.  Entre seus melhores tangos, podemos mencionar: Naranjo en flor (com Virgilio Expósito, 1944), Percal e Yuyo verde (com Domingo Federico, 1943 e 1944), Margot e Trenzas (com Armando Pontier, 1946), Te llaman malevo (com Anibal Troilo, 1957), entre outros.  Faleceu em 1987.

(trad. RM)