No 108 - Ano IX - Dezembro de 2004


Marta Antón y \Manolo "Gallego" Salvador

Há quem rotule o tango de música triste, prá baixo...  Por que triste?  Já ouviram os tangos tocados pelas maravilhosas or-questras de D'Arienzo, Canaro, Punta y Taco, Caló?  E as mi-longas? E os valses melodiosos, transbordantes de alegria, capazes de levantar até o mais tímido dos casais? 

Alguns tangos podem ser mais introspectivos, densos, do tipo Pugliese, Di Sarli, Fresedo e até Piazzolla, por exemplo. Quando os mesclamos a outros temas mais leves, há um contraste, um contraponto que é o fio condutor do baile do início ao fim.  Diga-mos que o equivalente ao agridoce na culinária ou ao composé dos tecidos.  Haja comparações!

Talvez por isso esses tangos sejam mais difíceis de dançar; exigem concentração e total entrega, nem sempre possíveis num baile onde os encontros sociais são freqüentes e existem inter-ferências de diversas ordens.

Porém jamais os tachemos de tristes!  Há que ouvir - e muito! O Tango é um gênero peculiar, de uma riqueza de estilos e nuances incomparável.  E é por isso que é considerado por alguns como “de elite”, pois requer gosto apurado e muita dedicação.

(R.M.)

 

Cantemos

 

(tango - 1933)

Música:  Rodolfo A. Biaggi                                                                        Letra:  Homero Manzi

 

Ya sé que me has olvidado.

Ya sé que te fuiste lejos.

Ya sé que con mis consejos

no te voy a enderezar.

Ya sé que no hay más destino

que abrir todas las tranqueras

y galopar campo afuera

para poder olvidar.

 

Ya ves, me han dejado triste

tus ojos engañadores.

Ya ves, coseché dolores

al arar tu soledad.

No sé si al verme tan lejos

tendrás arrepentimientos.

No sé... pero lo presiento

que al fin me vas a llorar.

 

Assim se tece a história

 

 

Pianista, maestro e compositor.  Nasceu no bairro portenho de San Telmo em 14 de março de 1906.  Seus estudos regulares foram superados pela sua aptidão para a música:  o piano era sua verdadeira vocação.  Aos 13 anos já tocava num cinema do bairro.  Com 15 anos, foi convidado pelo maestro Juan Maglio (Pacho) para fazer parte de sua orquestra.  José Razzano lhe propôs acompanhar Gardel em algumas gravações e, assim, em 1930, grava no selo Odeon. Embora convidado pelo cantor para uma turnê européia, não aceita e passa a integrar a orquestra de Juan Canaro.  Logo após, Juan D'Arienzo o convida para pianista de sua orquestra, onde o jovem pianista, com sua execução agitada e rítmica, definiu para sempre seu estilo inconfundível. Sua atuação com a orquestra deixou 71 gravações.

 

Em 1938, Biagi se separa de D'Arienzo para formar seu próprio grupo.  Sua atuação na Rádio Belgrano lhe valeu o apelido de "Manos brujas".  Seu primeiro cantor foi Teófilo Ibáñez, seguido por Andrés Falgás.  Depois veio o cantor de maior sucesso da orquestra:  Jorge Ortiz.  Também passaram por sua orquestra Alberto Amor e Carlos Acuña.  No ano de 1942, atuou no Chile com um estrondoso sucesso.  Como curiosidade, destaca-se que em sua orquestra nunca atuou uma mulher.

 

Sua orquestra foi a primeira a apresentar-se na tevê argentina, no começo da década de 50.  Sua obra como compositor, apesar de não ser extensa, foi muito popular.  Compôs o tango instrumental "Cruz diablo"; os valses "Amor y vals", "Como en un cuento" e o tango "Humillación" com letra de Carlos Bahr; os tangos "Gólgota", "Magdala" e "Por tener un corazón" com Francisco Gorrindo; as milongas "Campo afuera" e "Por la güella" com Homero Manzi; os tangos "Dejá el mundo como está" com Rodolfo Sciammarella; "Oh, mama mía" com Carlos Marín e "Indiferencia" com Juan Carlos Thorry.

 

A última vez que Biagi atuou em público foi em agosto de 1969.  Pouco mais de um mês após, em 24 de setembro, morre repentinamente por uma baixa súbita de pressão. 

Fonte:  Todo Tango (por Jorge "Palacio" Faruk) – trad. RM