Nº 60 - Ano V - Dezembro de 2000


O autor desta gravura é o conhecido cartunista LAN, argentino radicado no Rio

            Esse contratempo justo, regido por vírgulas abstratas rumo à trilha de um tango orillero, certamente num salão denota o claro desejo de misturar-nos.

            Tango, arte criativa que prova nossa iniciação constante na comoção da noite, nas relevantes ausências que permeiam energias plausíveis ou na entrega como flores avulsas a pares insoslayáveis.

            Tango, cicatriz da ferida dos gêneros, entre tenaz e feliz, oscila entre a milonga e o vals, entre a melancolia e o êxtase de deixar fugir as preferências e dançar assim, sem continências.

            Tango, vida mía... forma ardente de glamour sem adereço, menos do que o teu vestido preto, salto alto e singular magia.  Venha!     

(A.D.R.)

 

Cantemos...

HIC !!!

 

(Tango)

Letra:  Juan Andrés Caruso                                        Música:  Francisco Canaro

  Eche, amigo, no más, écheme y llene hasta el borde la copa de champán,

Que esta noche de farra y alegría el dolor que hay en mi alma quiero ahogar.

Es la última farra de mi vida, de mi vida, muchachos, que se va,

Mejor dicho, se ha ido tras de aquélla que no supo mi amor nunca apreciar.

Yo la quise, muchachos, y la quiero, y jamás yo la podré olvidar,

Y me emborracho por ella, y ella ¡quién sabe que hará!

Eche, mozo, más champán, que todo mi dolor bebiendo lo he de ahogar...

Y si la ven, amigos, diganlé que ha sido por su amor que mi vida ya se fue...

Y brindemos, no más, la última copa, que tal vez ella pronto allí estará

Ofreciendo en algún brindis su boca, y otra boca febril la besará.

Es la última farra de mi vida, de mi vida, muchachos, que se va,

Mejor dicho, se ha ido tras de aquélla que no supo mi amor nunca apreciar.

 

Assim se tece a história

Nasceu a 26 de novembro de 1888, em San José de Mayo (Uruguai).  Já no final do século passado mudou-se para Buenos Aires.  No ano de 1906 debutou com um trio, na cidade de Ranchos, junto a Martín Arrevillaga (bandolim) e a Rodolfo Duclós (violão).  

Seu itinerário de sucessos é excepcional:  desde os cafés de Suárez e Necochea, a tradicional esquina do bairro de La Boca, passando pelos salões Rodriguez Peña, El Estribo, as casas de baile portenhas, o cabaré Montmartre, o Teatro Colón de Rosário, até chegar aos palcos de muitos países do mundo.  

Em 1921, iniciou gravaçFrancisco Canaro, na idade maduraões com a Nacional Odeón (posteriormente o selo Odeón).  Foi animador de primeira linha em várias representações teatrais, com Juan A. Caruso, Ivo Pelay, etc.  Participou de diversos filmes:  La Historia del Tango, Se llamaba Carlos Gardel, La canción de los barrios, La voz de mi ciudad, Corrientes calle de ensueño, etc.    

Sua obra teve transcendência universal.  Assinou mais de 700 títulos, entre os quais citamos: Tiempos viejos, La brisa, Nueve puntos, La tablada, Casas viejas, Madreselva, Yo también soñé, La tablada, El chamuyo, La ultima copa, Pinta brava, os valses Corazón de oro,Yo no sé que me han hecho tus ojos e Dos corazones, e as milongas Se dice de mi e Milonga canyengue, etc.  

Em 1925 Canaro realizou a conhecida e divulgada viagem a Paris (que serviu de tema para o tango Canaro en Paris).  Naquela época integravam seu conjunto o violinista Agesilao Ferrazzano, o pianista Fioravanti Di Cicco, o baterista Romualdo, o contrabaixista Rafael Canaro e Aprela como vocalista.  

Canaro impôs em Paris o costume de vestir trajes gauchescos nos conjuntos rioplatenses que se apresentaram seguidamente na Europa.  O primeiro tango deste popular compositor data de 1908 e se chama La barra fuerte.  Com Ivo Pelay, Canaro compôs temas inesquecíveis:  Sentimiento gaucho, Los ojos más lindos, Corazón encadenado, etc.  Em 1937, criava o famosíssimo Quinteto Pirincho, formado exclusivamente para o estúdio de gravação.  

Em 1961, apresentou-se no Japão e na volta a Buenos Aires, realizou suas últimas apresentações ante as câmaras do Canal 11, no programa Yo soy porteño. Dois anos mais tarde, em dezembro de 1964, deixava de existir, conforme deixou registrado: “Yo soy de morir de pie” – e assim foi, morreu de pé, trabalhando.  Com ele se foi uma boa parte da história do Tango.           

(Fonte:  Diccionario del Tango, de Constantino Sobrino – Trad. RM)