No 104 - Ano VIII - Agosto de 2004


Sergio Maciel e Patricia Aguiar

Naquela milonga, a promessa de um fabuloso tresnoite, de diversão garantida.  Pessoas que fazem do tango um ideal, um “cordão de prata” que, mesmo não visível, está sempre presente.  A mistura dos pequenos redutos tangueiros cariocas ali se consuma, existe – se não na prática, pelo menos acontece pelo “estar ali”.   Ponto para os organizadores!

Porém, quando se oferece a oportunidade de o movimento tangueiro aparecer como um todo, minimamente que seja, na mídia profissional, por que esses pequenos redutos nunca são lembrados?  Onde anda a tal generosidade carioca? 

Divulgação precisa existir e não apenas para os aficcionados (como é o nosso caso), mas também para aqueles que nunca tiveram contato com o gênero.  Isto está diretamente ligado à freqüência dos bailes e conseqüentemente, ao fatura-mento e à continuidade do movimento.

Sacudir a poeira, diluir o ranço feudal da dança social como um todo é preciso.  Congregar, ser solidário, ceder a vez, negociar – são atos que podem – e deveriam - ser postos em prática.  O tango depende disso para sua sobrevivência! 

(RM)

 

Cantemos

Letra:  Felix Garzo             Música: Juan Viladomat Masanas

Fumar es un placer, genial, sensual…

Fumando espero a la que tanto quiero

tras los cristales de alegres ventanales

y mientras fumo mi vida no consumo,

porque flotando el humo me suelo adormecer.

 

Tendido en el sofa,  soñar y amar

ver a mi amada feliz y enamorada

sentir sus labios besar con besos sabios

y el devaneo sentir con mas deseos

cuando sus ojos veo sedientos de pasión.

 

Por eso estando mi bien

es mi fumar un eden,

dame el humo de tu boca

dame que en mí,  pasión provoca,

corre que quiero enloquecer de placer,

sintiendo ese calor del humo embriagador

que acaba por prender la llama ardiente del amor.

 

Assim se tece a história

Junto a La cieguita, cuja fama se verifica na versão de Gardel e da qual não se têm muitas gravações, Fumando espero é, com certeza, o tango mais famoso composto na Espanha.  Foi escrito para uma peça teatral, a revista La nueva España, que estreou em Barcelona, no teatro Victoria em 1923.  Foi levada para a Argentina e Firpo o gravou em versão instrumental.

O tango foi gravado pela primeira vez em 1926 pela cupletista Ramoncita Rovira, por Rosita Quiroga e Ignacio Corsini em 1927, e então foram feitas diversas excelentes versões.  Entre as mais famosas estão as de Argentino Ledesma com Hector Varela em 1955.  Em 1956, com Di Sarli; Libertad Lamarque com Victor Buchino e Carlos Dante com Alfredo De Angelis.  A atriz Sarita Montiel tornou-a imortal no cinema, no filme “El último cuplé”, de 1957.

Viladomat nasceu em Manlleu (Barcelona) em 8 de fevereiro de 1885.  Primeiramente aderiu à pintura, mas depois aprenderia música em sua estada no seminário de  Vich.  Em 1899 já é flautista na banda de sua cidade e, já em Barcelona, faz concurso para o conservatório do Liceo (1906).

Em 1910 abre uma academia, que edita suas próprias obras musicais.  Durante a época de esplendor do fox-trot, Viladomat compôs continuamente, sendo suas obras interpretadas pelas cantoras mais famosas, como Raquel Meller, Mercedes Serós, Pilar Alonso, Elvira de Amaya, Amalia Molina, Adelita Lulú, Consuelo Hidalgo, Eugenia Roca, etc.  Algumas canções:  Al sena, Carrer avall, Catalunya plora, El beso, El pintor cubista, El primer tango, El regreso, El 6 d’octubre, El vestir d’en Pasqual, Empordá lliure, Hoy, Julieta (tango), L’orfaneta, La canción de Margot, La catalanista, La expulsada, La golondrina, La mesonera, La puntaire, La sardana republicana, La Verónica, Niní, Palabritas amorosas, Porque era negro, Una mujer, Ven a mi país, Zenga (tango).

Viladomat atingiu o triunfo em vida mas também teve tempo de assistir à decadência dos gêneros que lhe deram fama.  Depois da guerra civil espanhola, os teatros de variedades começaram a decair ante o crescente vigor da comédia americana, a canção folclórica ou o esporte.  Juan Viladomat i Massanes as acompanhou em seu óbito.  Em 29 de dezembro de 1940, morria em Barcelona sem que sua ainda recente fama alimentasse nenhuma crônica jornalística.  A guerra tinha feito passar a segundo plano tudo que não fossem suas sinistras conseqüências.

Javier Barreiro (Publicado na Revista Club de Tango – maio de 1994 – trad. RM)