No 124 - Ano X - Abril de 2006


Dançar um tango

Dançar um tango é minerar na foz.

Tirar do solo da alegria,

o que existe de melhor em nós,

em forma de amor e melodia.

Dançar um tango é navegar na luz,

iluminar as nuvens dos cansaços.

É acender um sentimento que conduz,

vestindo a fé na rota de seus passos.

Dançar um tango é espalhar a paz

no rosto dos amantes, nas calçadas.

Nas pistas da paixão, no encontro    de casais,

é, dentro das pessoas, esculpir estradas.

Dançar um tango é criar saídas,

do beco da tristeza, das dores germinadas.

É retirar da voz o eco das feridas,

e retirar da vida as sombras semeadas.

Dançar um tango é não tecer tristezas,

e nem tocar com os dedos uma ausência.

É exilar do peito uma saudade

que corta como faca, sem defesa.

Pois só o tango tem asas para libertar,

o que está dentro da alma do povo,

e o sonho que liberta o gesto de dançar,

é a harmonia de um mundo novo.

Dançar um tango é falar dessa vontade,

para dizer da sua claridade,

para falar do eco da canção.

Por isso, hei de dançar aonde for,

no puro verso da palavra amor,

na poesia pura da emoção.

 

 Fernanda Mulin (RJ), 1o  prêmio do  II Concurso Tango  Poesia

 

Cantemos

(Tango)

Música: Eduardo Arolas                                                Letra: Gabriel Clausí

Tango de mi ciudad, malevo y sensual

canyengue y tristón, color de arrabal,

Señor de salón, tenés emoción de noche porteña.

Vuelve para surgir en danza triunfal

canción sin igual que me hace sentir

con tanta pasión en el corazón su abrazo de amor.

Hoy, oigo el son de un triste bandoneón

que llora en su canción la pena de un amor

que nunca pudo ser por causa de creer en locos berretines.

Todo pasó... no quiero recordar el tiempo que se fue

ya nunca volverá la dicha de tu amor

para poder soñar con vos en mi arrabal.

Qué dulzura hay en tu voz, che, bandoneón, con tu chamuyo suave.

Tiempo lindo y querendón, nobleza de arrabal, amores de otros tiempos.

Sigue, sigue tu canción para alegrar esta velada linda.

Suena, suena bandoneón,que siempre tu canción está en el corazón.

 

 

Assim se tece a história

Bandoneonista, maestro e compositor, nasceu em 30 de agosto de 1911.  Tinha pouco mais de doze anos quando debutou no “La Fratinola” de Barracas.  Em 1925 integrou o quarteto Milano-Ropi.  Depois anos depois, passou rapidamente pela orquestra de Juan Maglio, na qual fez gravações em trio de bandoneons com Federico Scorticati e Ernesto Di Cico, e integrou os conjuntos de Geroni Flores, Minitto-De Cicco, Francisco Pracánico e Roberto Firpo. 

Em 1929 passou à orquestra de Pedro Maffia.  Em 1936 fez parte da orquestra de Julio De Caro e em 1939 debutou com sua própria orquestra onde tocou Astor Piazzolla, até que foi chamado em 1940 por Juan Canaro.  Em 1942, formou outro conjunto com De Bassi e logo após se radicou no Chile por mais de dez anos, formando sua orquestra como figura consular.  Em 1953 retornou a Buenos Aires, onde lecionou e dirigiu conjuntos e gravou solos de bandoneón pelo selo Chopin. 

Suas composições de destaque foram:  A Francisco De Caro,  Alfredo Arnold, Alice, Araca, Arolas, Comme if faut, Como anillo al dedo, Como me puse a llorar, Derecho viejo, En buenas manos, En capilla, En el suburbio, En un rincón del café, Han pasado tantos años, Jamás vendrás a mi (vals), La guitarrita, Maipo, Rawson, Retintín, Sentimiento, Una noche de garufa, Viborita, de uma lista que alcança a cifra de 400. 

Tinha um apelido fora do comum: “Chula”, e conta que quando nasceu, seu pai exclamou: «¡Parece un chula!», pois o menino havia nascido cabeludo e com uma franjinha na testa, o que para seu pai (que vivera no Brasil, principalmente no campo) lembrava um tipo de mico chamado “Chula”. 

Fonte:  “Portal del Tango” – trad. RM