No 100 - Ano VIII - Abril de 2004


Eduardo Cappussi e Mariana Flores

TANGO ETERNO

 Quando os meios de comunicação de massas começaram a internacionalizar os sentimentos da gente, o Tango globalizou a sua melodia.  Por educação e mimetismo, arrojou a ingenuidade ao divã e trocou a agulha para se reafirmar com Galván, Stampone, Garello e Piazzolla.

Se queremos um Tango eterno, devemos admitir um Tango cambiante, porque a sua substância não reside no 2 x 4, nem no 4 x 8, e sim no câmbio, na mudança.

É assim que permanentemente a evolução exige a insaciável busca. Se queremos um Tango eterno, admitamos a fatalidade de não mergulharmos rotineiramente nos mesmos tangos. 

Recordando Heráclito: "O portenho e o Tango não são; advêm..."   O advir é a substância.

(ADR)

 

Cantemos

Música e Letra:  Azucena Maizani

Llegando la noche recien te levantas

y sales ufano a buscar un beguen.

Lucis con orgullo tu estampa elegante

sentado muy muelle en tu regia baque.

Paseas por Corrientes paseas por Florida

te das una vida mejor que un pacha.

De regios programas tenes a montones

Con clase y dinero de todo tendras.

Pero yo se que metido vivis penando un querer,

que queres hallar olvido cambiando tanta mujer...

Yo se que en las madrugadas cuando las farras dejas,

sentis tu pecho oprimido por un recuerdo querido

y te pones a llorar.

Con tanta aventura con toda tu andanza

llevaste tu vida tan solo al placer.

Con todo el dinero que siempre has tenido

todos tus caprichos lograstes vencer.

Pensar que ese brillo que facil ostentas

no sabe la gente que es puro disfraz.

Tu orgullo de necio muy bien los engaña...

No quieres que nadie lo sepa jamás.

 

Assim se tece a história

Cantora, autora, compositora e atriz, nasceu a 17 de novembro de 1902.  Passou sua infância em Palermo e até sua adolescência, conviveu com seus parentes na ilha Martín García.  Aos 17 anos volta a Buenos Aires e trabalha como costureira.  

Sua primeira oportunidade de estréia no mundo do espetáculo deu-se no teatro Pigall em 1920, junto a Francisco Canaro, que por não saber seu nome, apresenta-a como Azabache (azeviche), pela cor de seu cabelo.  Logo agrada ao público e Canaro lhe agradece, porém na verdade nada acontece ali.  Porém seu golpe de sorte acontece no aniversário de uma amiga, onde conhece Enrique Delfino que, bem impressionado, a apresenta a um empresário que preparava a estréia de A mí no me hablen de penas de Alberto Vacarezza. Ao escutá-la, interessa-se e a contrata para intérprete.  Para ela escrevem o tango Padre nuestro (o segundo tango escrito para ser cantado por uma mulher), com música de Delfino.  Em 23 de junho de 1923 debuta cantando Padre nuestro , com sucesso instantâneo, tendo que repeti-lo para o público por cinco vezes.  Depois de sua estréia, aparece em programas de rádio e, em 1924 já grava seu primeiro disco.  Trabalha em diversas companhias de teatro e aos poucos vai crescendo sua popularidade.  Durante anos apresentou-se vestida com trajes masculinos, imagem agressiva para uma mulher, que contrastava com a realidade de seu tempo.  Romântica e temperamental, cantava com emoção letras que retratavam amores e fracassos de mocinhas humildes do subúrbio, na verdade um relato de sua própria juventude.

Nessa época, já se sabia que La Ñata (nariguda) Gaucha era a cantora número um – e ninguém o discutia e nem se zangavam por isso - pelo contrário, as demais cantoras a admiravam como artista e como pessoa.  Em 1929 começa uma turnê pelo Chile e a seguir por toda a Europa, com uma grande companhia de teatro, levando o público a conhecer o tango (em versão feminina) no exterior.  Também trabalhou nos filmes Tango (1933), Monte criollo (1935), Di que me quieres (1938), Nativa (1939).  Em 1938 começa outra turnê que inclui toda América do Sul, Central e Estados Unidos.  Em 1962, deixa o mundo do espetáculo com uma impressionante despedida no teatro Astral, com grande aclamação do público e dos críticos. 

Em 1966, Azucena sofre uma hemiplegia e falece quase esquecida a 15 de janeiro de 1970.  Sua obra mais conhecida e de sucesso é o tango Pero yo sé, além de La canción de Buenos Aires (Oreste Cúfaro/Manuel Romero), o vals Pensando en ti (Celedonio Flores) e a ranchera Decí que sí (Cúfaro/Pidemunt).

Fonte:  Portal del Tango e Todo Tango (trad. RM)